CRISTINA H MELO
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e logo à tarde tudo será o mesmo?

Casa da Cultura, Setúbal - 08 Outubro 2016 a 02 Novembro 2016

UMA HORA DE OS OBJECTOS ESTAREM


Num poema de António Feijó, um cisne, preso na neve, canta o seu famoso grito de dor, pensa e sente o desespero do fim, “chora perdidas maravilhas”. A sua dor soa-nos como uma canção bela e fulgurante. E talvez também seja belo e fulgurante o enquadramento de penas de sangue sobre tudo tão branco.
O que fica, porém, de todas as imagens da morte é a solidão que une todos os seres vivos nesse momento derradeiro. Seguir-se-á a decomposição, a antecâmara do regresso ao pó. Ao nada. Ou a passagem para outra coisa que ninguém sabe bem o que é. Partem daqui, creio, estas fotografias de Cristina H. Melo. Vão encontrar na terra o que a terra está prestes a receber, enquanto a matéria se vai lentamente alterando em formas infinitamente diferentes. Depois do canto, do último grito, de um ai ou da mudez total, todos os seres passam a objectos, transformáveis, portanto. O tronco de árvore que se vê a abrir já é outra coisa, tudo já é outra coisa. A deterioração de carne e ossos, o lixo, a erosão, o apodrecimento, os destroços, o abandono – sinais de ciclos de vida e fatalidade e intervenções nela captadas por este olhar que sabe como a matéria não é senão, como escreve Luiza Neto Jorge, “uma hora de os objectos estarem”.
Por outro lado, a introdução de imagens com a marca do humano, do humano carnívoro, instauradoras de dúvida e de possibilidades narrativas (de ironia, por exemplo), mais faz sublinhar o evidente caminho junto à água, fonte matricial, agente de regeneração e de purificação em todas as religiões: areia molhada, torneira, bolor, bebedouro, barco, musgo, laranjas – tudo para mais uma vez regressarmos, não se sabe por quanto tempo, transformados possivelmente em espectaculares animais metálicos, cobertos de plásticos rasgados, decorando parques e alamedas.
Ainda assim, o mais certo é, para o bem e para o mal, voltarmos a obedecer à pulsão da água primordial, o sangue, e a não resistir à tentação de apertar uma flor num laço.

                                                Helder Moura Pereira

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@Teresa Carvalho 2016
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